segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Naturalismo/Realismo no Brasil

Naturalismo/Realismo no Brasil
No final da década de 1860, as produções literárias de poetas e prosadores como Castro Alves, Manuel Antonio de Almeida, Franklin Távora, Visconde de Taunay denunciam o fim do Romantismo. Embora na forma elas sigam os moldes românticos, os temas já começam a voltar-se para a realidade político-social. Na célebre Escola de Recife, Sílvio Romero e Tobias Barreto começam a formar o mais importante grupo do movimento realista brasileiro. Filiam-se a princípios e teorias européias ligadas ao Positivismo, ao Evolucionismo e ao Cientificismo e a dissolução da poesia romântica. Sílvio Romero sofre notável influência da filosofia alemã; mantém célebres polêmicas em defesa da obra de Tobias Barreto, contra a de Castro Alves. Quanto á abordagem, o romance realista difere totalmente do romance romântico, pois neste é freqüente a idealização, enquanto que naquele predomina a objetividade. Já quanto à temática, pode-se dizer que alguns dos temas explorados pelos românticos se repetem no Realismo. É o caso, por exemplo, de certas descrições da moral burguesa e da vida urbana, freqüente em José de Alencar, ou na obra O Seminarista, de Bernardo Guimarães, que já desenvolve certos aspectos do determinismo biológico dos naturalistas. Por outro lado, o Realismo não se detém no século XIX; várias manifestações ocorridas no século XX levam-nos a considerá-las como um prolongamento do Realismo, como por exemplo, Raquel de Queiroz, José Lins do Rego, Érico Veríssimo. Estes escritores regionalistas do século XX manifestam em suas obras tendências realistas. A exploração do elemento regional é que, no Brasil, deu forças ao Realismo. A realidade político-social, está presente em autores de diferentes épocas. O romance, o conto, o teatro – gêneros explorados em menor escala pelos românticos – foram cultivados por Machado de Assis, Artur Azevedo, autores com tendências realistas. O tom expositivo e narrativo da maioria desses gêneros antecipou o regionalismo dos modernistas. Panorama histórico-cultural Na segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira sofre uma radical transformação. De sociedade agrária, latifundiária, escravocrata e aristocrática passa a ser uma civilização burguesa e urbana. Opera-se uma transformação semelhante no campo da psicologia e da antropologia sociais: ascensão da população mestiça e sua participação nas atividades social, política e intelectual do país. Com a fundação da Academia Brasileira de Letras (1897) e com o processo de oficialização da literatura, o escritor (antes marginalizado) passa a ser prestigiado e começa a participar da vida social; sua obra recebe um acatamento antes inexistente. De 1864 a 1870, desencadeia-se o maior conflito armado da América do Sul – a Guerra do Paraguai – com sérias conseqüências para os países nela envolvidos: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. No ano em que termina essa guerra, é fundado o Partido Republicano e há o enfraquecimento da Monarquia. A partir de 1850, intensifica-se a campanha a favor da abolição dos escravos. É assinada a Lei Áurea (1888) e, então, a realidade brasileira, no setor econômico, sofre uma violenta mudança. A mão-de-obra do escravo é substituída por imigrantes europeus assalariados para o trabalho da lavoura cafeeira.

Marco Inicial
Publicação dos livros O Mulato (1º romance naturalista), de Aluísio Azevedo e Memórias Póstumas de Brás Cubas (1º romance realista), de Machado de Assis em 1881.
Referências históricas
Contexto sócio-político da época:
  • teorias de nova interpretação da realidade - Positivismo, Socialismo Científico e Evolucionismo
  • no Brasil, campanha abolicionista a partir de 1850 que culmina com a Lei Áurea em 1888
  • fundação do Partido Republicano nacional após a Guerra do Paraguai
  • decadência da monarquia brasileira
  • fim da mão-de-obra escrava e sua substituição por trabalho assalariado
  • imigrantes europeus para a lavoura cafeeira
  • economia mais voltada para o mercado externo, sem colonialismo
Características
As características do realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico e às novas formas de pensamento:
  • objetivismo = negação do subjetivismo romântico, homem volta-se para fora, o não-eu
  • universalismo substitui o personalismo anterior
  • materialismo que leva à negação do sentimentalismo e da metafísica
  • autores são antimonárquicos e defendem os ideais republicanos
  • nacionalismo e volta ao passado histórico são deixados de lado para enfatizar o presente, o contemporâneo
  • determinismo influenciando o homem e a obra de arte por 3 fatores: meio, momento e raça (hereditariedade)
O Romance realista propriamente dito, no Brasil, foi mais bem cultivado por Machado de Assis. Narrativa preocupada com análises psicológicas dos personagens e fazendo críticas à sociedade a partir do comportamento desses personagens.

Autores

Raul Pompéia

De infância rica e reclusa, teve experiências em colégio interno, onde recebeu influências para escrever O Ateneu. Publicou seu primeiro livro ainda bem jovem, que muito aclamado pela crítica da época. Mais tarde estudou Direito, colaborando também com jornais e revistas.
Era abolicionista e republicano, leva vida agitada com polêmicas, inimizades e crises depressivas. Muito sensível, este professor, político, jornalista, escritor e polemista se suicidou no Natal de 1895, abandonado pelos amigos, caluniado e humilhado na imprensa. Foi um escritor que não se pode enquadrar em único estilo, tendo influências naturalistas, realistas, expressionistas e impressionistas.
Sua obra de maior importância é O Ateneu, que tem algum caráter autobiográfico e garantiu ao autor lugar entre os maiores romancistas brasileiros. Nas passagens a seguir, note a linguagem rebuscada que o autor usa.

"Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta."


--O Ateneu

"Falavam do incendiário. Imóvel! Contavam que não se achava a senhora. Imóvel! A própria senhora com quem ele contava para o jardim de crianças! Dor veneranda! Indiferença suprema dos sofrimentos excepcionais! Majestade inerte do cedro fulminado! Ele pertencia ao monopólio da mágoa. O Ateneu devastado! O seu trabalho perdido, a conquista inapreciável de seus esforços!... Em paz!... Não era um homem aquilo; era um de profundis."


--O Ateneu
Obras Principais:
  • Uma Tragédia no Amazonas (1880) - seu 1º romance
  • O Ateneu (1888)
  • As Jóias da Coroa (1888) – anti monarquista, é publicado sob a forma de folhetins na Gazeta de Notícias
  • Canções sem Metro (1900) - poesia
Sobre O Ateneu: narrativa de confissão, espécie de regresso psicanalítico, onde o personagem principal redesenha pela memória os fantasmas da adolescência vivida num colégio interno. Apresenta problemas como a má direção, comportamentos equivocados de professores, violação da pureza, explosão libidinosa da adolescência etc.

Aluísio de Azevedo

Tem por formação o desenho e a pintura, só mais tarde torna-se escritor profissional. Envolveu-se na política maranhense, fundou jornais e publicou o primeiro livro naturalista brasileiro, O Mulato, que foi muito mal recebido em sua província natal. Foi o primeiro escritor brasileiro a ter a literatura exclusivamente como profissão. Sua obra variou em qualidade, tendo feito alguns dramalhões românticos que considerava de má qualidade - que chamava “comerciais” - e obras naturalistas de relevância - junto com outras de nem tanta relevância ou qualidade. A divisão de sua obra não representa fases, pois os romances românticos eram alternados com os naturalistas. Mais tarde se desgostou da literatura e ingressou no serviço público. Foi membro da ABL.
Confere aos pequenos agrupamentos humanos vida própria. Seus protagonistas vão se degradando social e moralmente por força da opressão social ou, ainda, por força do determinismo das leis naturais (cientificismo). As tragédias são comuns em seus romances, mas estas vêm da fatalidade.
O que se segue são passagens de suas obras mais famosas e importantes, as naturalistas O Mulato, O Cortiço e Casa de Pensão.

"Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado."


--O Cortiço

"Sua pequena testa, curta e sem espinhas, margeada de cabelos crescendo, não denunciava o que naquela cabeça havia de voluptuoso e ruim. Seu todo acanhado, fraco e modesto, não deixava transparecer a brutalidade daquele temperamento cálido e desensofrido."


--Casa de Pensão


"Então, fechou novamente os olhos estremecendo, esticou o corpo - e uma palavra doce esvoaçou-lhe nos lábios entreabertos, como um fraco e lamentoso apelo de criança: - Mamãe!... E morreu."


--Casa de Pensão

Obras Principais:
  • Uma Lágrima de Mulher (1879), O Mulato (1881), Memórias de um Condenado (1882), Mistério da Tijuca (1882), Casa de Pensão (1884), Filomena Borges (1884), O Coruja (1885), O Homem (1887), O Cortiço (1890), A Mortalha de Alzira (1894), Livro de uma Sogra (1895) - romances
  • Demônios (1893) e Pegadas (1897) - contos
  • A Flor de Lis (1882), Casa de Orates (1882), Fritzmac (1889), Os Doidos (1879), O Esqueleto (1890), A República (1890), Um Caso de Adultério (1891), Em Flagrante (1891), Venenos que Curam (1886), O Caboclo (1886) - teatro
  • O Touro Negro (1898) - crônica

Adolfo Caminha

Talvez o mais audaz dos naturalistas brasileiros. Viaja pela Marinha e, no Ceará, ajuda a fundar o Centro Republicano além de participar da vida intelectual da cidade. É envolvido num escândalo de adultério e é expulso da Armada. Retira-se da vida social, mas continua a participar da vida literária. Em 1891 muda-se para o RJ, onde se dedica ao jornalismo e literatura, escrevendo algumas das obras-primas do Naturalismo como A Normalista e Bom-Crioulo.
A Normalista é a história chocante de um incesto em que a personagem principal é seduzida pelo padrinho. Já O Bom Crioulo trata das minorias sexuais condicionadas pelo ambiente. O personagem Amaro, O Bom Crioulo, se envolve amorosamente com um jovem grumete, que acaba sendo seduzido por uma portuguesa. A descoberta da traição leva Amaro a assassinar seu amante.

"Seguia-se o terceiro preso, um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura colossal de cafre, desafiando, com um formidável sistema de músculos , a morbidez patológica de toda uma geração decadente e enervada, e cuja presença ali, naquela ocasião, despertava grande interesse e viva curiosidade: era o Amaro, gajeiro da proa, - o Bom-Crioulo na gíria de bordo."
"Aleixo passava nos braços de dois marinheiros, levado como um fardo, o corpo mole, a cabeça pendida para trás, roxo, os olhos imóveis, a boca entreaberta. O azul-escuro da camisa e a calça branca tinham grandes nódoas vermelhas. O pescoço estava envolvido num chumaço de panos. Os braços caíam-lhe, sem vida, inertes, bambos, numa frouxidão de membros mutilados."


--Fragmentos de O Bom Crioulo
Obras Principais:
  • A Normalista (1892), Bom Crioulo (1895), A Tentação (1896) - romances
  • Judith (1893), Lágrimas de um Crente (1893) - contos
  • Vôos Incertos (1855-6) - poesia
  • Cartas Literárias (1895) - crítica
  • No País dos Ianques (1894) - crônica

Domingos Olímpio

Escritor naturalista, foi um dos poucos e um dos últimos de sua escola. Formado em Direito, voltou ao Ceará para exercer o jornalismo como abolicionista e republicano. Forçado pela situação política (era político de oposição) mudou-se para o Pará. Já no Rio, publica sua principal obra, Luzia-Homem, e passa a escrever sob o pseudônimo de "Pojucan" na recém-fundada Os Anais, falecendo 3 anos depois. Em algumas passagens Luzia-Homem faz lembrar Vidas Secas de Graciliano Ramos.
Luzia-Homem tematiza a violência e o sadismo que florescem como literatura naturalista. Há nuances de Romantismo na morosidade da descrição das paisagens, onde a natureza, às vezes, é madrasta principalmente por causa da seca. Explora a duplicidade da personagem principal, ela é bonita, gentil e retirante da seca, mas também tem força descomunal.

"Sob os músculos poderosos de Luzia-Homem estava a mulher tímida e frágil, afogada no sofrimento que não transbordava em pranto, e só irradiava , em chispas fulvas, nos grandes olhos de luminosa treva."
"Raulino recuou, cortado de terror, ante o cadáver; e, num turbilhão de cólera, rugiu arrepiado, apertando os dentes, e, com uns gestos, que eram crispações medonhas de fera, esquadrinhou o terreno, buscando e rebuscando o criminoso."


--trechos de Luzia-Homem
Obras Principais:
  • Luzia-Homem (1903)
  • O Almorante (Anais, Rio, 1904-06)









O Mulato

Aluísio Azevedo publicou O Mulato, obra inaugural do Realismo/Naturalismo no país, em 1881 – mesmo ano em que Machado de Assis inaugurava o Realismo nas letras brasileiras com Memórias Póstumas de Brás Cubas.Em seu segundo romance, o escritor maranhense faz uma impiedosa crítica social a partir da sátira de personagens típicas de São Luís, capital da então Província do Maranhão. Os comerciantes grosseiros, as senhoras de escravos sádicas, as velhas beatas e fofoqueiras e o padre sedutor, maquiavélico e assassino são alguns exemplos de uma sociedade apodrecida e racista. Ao inspirar-se em pessoas de São Luís que, de fato, conhecia, Azevedo despertou raiva da sociedade maranhense e, embora louvado por críticos do Rio de Janeiro,teve de sair da sua cidade natal temendo maiores represálias. No anti clericalismo evidente da obra, há ecos de O Crime do Padre Amaro (1875), de Eça de Queirós,até então o maior expoente do Naturalismo em Língua Portuguesa. Mesmo assim,a obra ainda apresenta alguns resíduos românticos.
Na reta final da campanha abolicionista, Aluísio Azevedo idealiza a figura do mulato Raimundo, que pouco retém, na pele, as suas origens negras e é “moralmente impecável”. Além disso, a trama central do romance repete oestereótipo romântico do amor que luta contra o preconceito e as proibições familiares.






Leonardo carvalho  n°15

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